Ter nascido mulher e envelhecer são considerados, atualmente, os principais fatores de risco associados ao câncer de mama, doença que acomete, em 99% dos casos, pessoas do sexo feminino. E como não há uma vacina que evite o desenvolvimento desse tipo de neoplasia maligna, considerada a mais frequente entre as mulheres no mundo, é preciso afastar-se de hábitos e práticas que podem potencializar seu desenvolvimento.
A dica é do mastologista e presidente da Liga Amazonense Contra o Câncer (Lacc), Jesus Pinheiro, especialista com mais de 44 anos de experiência na área. Ele explica que tem trabalhado, através da ONG, palestras educativas para tirar dúvidas e apresentar às mulheres, cada vez mais cedo, informações sobre o desenvolvimento da doença, métodos de detecção precoce e características do organismo feminino que podem ajudar a elucidar questões relacionadas à saúde, afastando eventuais preconceitos. “Vale ressaltar que, quanto mais cedo o cânceré diagnosticado, maiores são as chances de cura”.
Segundo projeção mais recente do Instituto Nacional do Câncer(INCA), 57,9 mil novos diagnósticos foram registrados ano passado, uma média de 56,20 para cada 100 mil mulheres, conforme taxa bruta de incidência. No Amazonas, estimava-se 440 casos, ou, 22,26 para cada grupo de 100 mil mulheres.
Jesus Pinheiro explica que as informações acerca da doença deveriam iniciar ainda na fase infantil, conforme propõe a Sociedade Brasileira de Cancerologia. De acordo com ele, a mama feminina é composta por lóbulos, ácinos, ductos mamários, gordura e pele, o que na verdade, para pessoas leigas, não tem muita importância. “O importante é compreender que o câncer de mama surge através de uma célula que, por alguma mutação genética, não morre, como as demais durante o processo de envelhecimento do ser humano. Ela se prolifera mais rápido, alimentando-se dos hormônios produzidos pelos ovários (estrogênio e progesterona) e acaba formando o que chamamos de tumor maligno, ou, câncer”, destacou. Os mais comuns são os carcinomas ductais, responsáveis por 80% dos diagnósticos. Outros 18% (aproximadamente) são adenocarcinomas nos lóbulos (unidade funcional responsável pela produção do leite) e, os demais, são tipos raros da doença.
De acordo com Pinheiro, alguns fatores de risco não podem ser evitados, tais como o fator hereditário, o envelhecimento e ter nascido mulher, a menopausa tardia (após os 55 anos), a primeira menstruação de forma precoce (antes dos 12 anos) e o fator hereditário (responsável por uma pequena parcela dos casos de câncer– a maioria ocorre de forma esporádica).
Mas, cabe a cada um potencializar ou minimizar as chances de se desenvolver a doença, afastando algumas práticas nocivas à saúde, tais como o tabagismo, o alcoolismo, a obesidade, o sedentarismo, a reposição hormonal por tempo prolongado (superior a cinco anos) e, eventualmente, o uso de anticoncepcionais – este último ainda em fase de estudos mais aprofundados. Em contrapartida, um método natural considerado um dos protetores das mamas, é ter a primeira gravidez antes dos 30 anos e não após os 35. Isso porque, de uma forma prática, a amamentação amadurece os lóbulos mamários, reduzindo os riscos de se desenvolver futuramente o câncer de mama.
Os hormônios e o câncer
A associação dos hormônios com a formação do câncer é uma dúvida frequente no mundo feminino. Contudo, o mastologista assegura que o desenvolvimento da doença não é ocasionado especificamente pelos hormônios e, sim, pelas mutações genéticas de células, que por sua vez, alimentam-se dos hormônios. As células que sofreram mutação desenvolvem-se mais rápido que as demais. As mutações podem ser ocasionadas por fatores diversos. Alguns exemplos são o tabagismo e a obesidade. “O câncer acontece em três fases: a primeira é a mutação genética, a influência dos hormônios na multiplicação dessas células que sofreram mutação e a terceira, é a progressão da doença, quando ela se espalha para outras áreas do corpo”, comentou Jesus Pinheiro.
Ele destaca que a menopausa, caracterizada pela não funcionamento dos ovários, sugere que o corpo deixaria de produzir hormônios. Mas, na verdade, garante Pinheiro, as glândulas suprarrenais continuam a produzir esses hormônios e a gordura acumulada no corpo, também. Por isso a obesidade e o sedentarismo são considerados fatores influentes não só no aparecimento do câncer de mama, mas de diversas outras neoplasias malignas.
Um outro aspecto abordado por ele é a terapia de reposição hormonal, comum a mulheres na menopausa ou às que precisaram retirar os ovários ainda jovens. Ele alerta que, quando indicado, o tratamento deve receber atenção especial, com acompanhamento médico periódico. Estudos recentes apontaram maior chance de se ter um câncer de mama, com a terapia de reposição hormonal utilizada por tempo prolongado (mais de cinco anos). Mas o especialista assegura que, quando se trata de câncer, nenhum cálculo pode ser considerado exato. “Apesar de ser um risco, há mulheres que fazem uso de hormônios por tempo superior e não desenvolvem a doença”, ressaltou.
“Há de se pesar, nesse caso, no custo-benefício. Por isso, é importante que as mulheres conversem com seus médicos, informem se há casos de câncer na família, se os efeitos da menopausa são fortes e constantes, etc, pois existem terapias alternativas. Cada caso é um caso”, completou.
No caso de mulheres que passaram ou passam por tratamento contra o câncer de mama, a terapia de reposição hormonal, o uso de anticoncepcionais e a gravidez são contraindicados. “Conforme explicamos anteriormente, o câncer de mama se alimenta dos hormônios e, por conta disso, evitamos métodos que aumentem ou estimulem a produção dos mesmos”. Em casos de dúvidas, a sugestão é a atualização de informações através do Consenso Brasileiro de Terapia de Reposição Hormonal – 2014, uma fonte de pesquisa que considerou experiências e estudos de diversos especialistas na área.
Apesar de ser um tema polêmico, Jesus Pinheiro recomenda que a terapia hormonal, quando indicada, deve seguir critérios individualizados e a dose utilizada deve ser a menor possível, e por um curto espaço de tempo. Ele conclui reforçando a importância da realização do exame de mamografia, anualmente, a partir dos 40 anos, conforme preconizam entidades ligadas à saúde das mamas, e do autoexame às mulheres em geral, após o período menstrual. “Lembrando que mulheres que tiveram casos de câncer de mama na família, devem se submeter ao exame de mamografia 10 anos antes, pois só ele é capaz de detectar microcalcificações que podem sugerir a presença de um câncer ainda na fase inicial. À exceção dessas, às demais, com idade inferior a 35 anos, devem fazer a ultrassonografia mamária”, frisou.
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