Campanha criada em 2008 pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e o Instituto Lado a Lado Pela Vida, o “Novembro Azul” objetiva conscientizar a população sobre o Câncer de Próstata no Brasil. No dia 17 de Novembro comemora-se o dia mundial de combate ao câncer de próstata.
De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), houve um aumento de 20% na incidência dos cânceres, sendo o câncer de próstata o segundo mais comum em homens, no Brasil (ficando atrás apenas dos cânceres de pele não-melanoma). Doença com estimativa de 69 mil novos casos ao ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Sendo uma doença sem prevenção conhecida, é fundamental para o câncer de próstata um diagnóstico precoce para que haja um tratamento curativo. Assim, recomenda-se que homens a partir dos 50 anos consultem um urologista, anualmente, para a realização do Exame de Toque Retal e da dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA), os quais possibilitam o rastreio do câncer. E a partir de 45 anos naqueles com antecedentes familiares e/ou raça negra.
Outro fator importante é não haver sintomas na fase inicial, o que dificulta a ida do homem ao médico.
Eles aparecem apenas em casos mais avançados através de: vontade de urinar com urgência; dificuldade para urinar; levantar-se várias vezes à noite para ir ao banheiro; dor óssea; queda do estado geral; insuficiência renal; e dores fortes no corpo.No toque retal é avaliado o tamanho, consistência, superfície, limites, presença de nódulos e manifestação de dor ao toque.
Enquanto, no PSA temos a suspeita em valores acima de 2,5 ng/ml em homens abaixo de 60 anos e valores acima de 4,0 ng/ml em homens acima de 60 anos. Porém por não ser um exame específico, o PSA pode vir alterado mesmo sem a presença de câncer, fazendo diagnóstico diferencial com Prostatites e Hiperplasia Prostática Benigna.
Diante de alterações suspeitas, será solicitada ainda uma biópsia dirigida por ultrassom transretal para confirmação diagnóstica do câncer de próstata.
O estadiamento em casos confirmados de neoplasia de próstata consiste no exame físico (alterações do toque), exames laboratoriais (PSA, fosfatase ácida prostática, fosfatase alcalina) e exames de imagem: Ressonância Magnética e/ou Tomografia de abdômen e pelve mais Cintilografia Óssea de corpo inteiro, que permitem de maneira geral fazer o estadiamento em: Localizado, Localmente avançado ou Metastático.
Nos casos de tumores localizados pode-se optar por Vigilância Ativa, que consiste no acompanhamento do câncer por Toque, PSA e novas biópsias. Permite, assim, a intervenção com o tratamento curativo, caso haja progressão do tumor.
O tratamento curativo no câncer localizado tem como opções a Radioterapia ou a Prostatectomia Radical que pode ser realizada por via robótica, laparoscópica ou aberta. Enquanto nos casos dos tumores localmente avançados, a associação dos dois métodos permite uma maior chance de cura do paciente. Porém no câncer metastático, a retirada da próstata não é mais uma opção, sendo necessário o bloqueio androgênico químico ou cirúrgico . Atualmente, novos quimioterápicos têm sido incorporados a pacientes em estagio avançado, com ganho em sobrevida e qualidade de vida.
Assim sendo, o diagnóstico precoce é a melhor forma de evitar a progressão do tumor além dos limites da próstata e favorecer a maior probabilidade de cura do paciente. Desse modo, o “Novembro Azul” é uma campanha destinada à realização, principalmente, de palestras informativas para leigos e intervenções em locais de grande circulação, incentivando à busca ao urologista pelo público alvo e diagnosticando cada vez mais a doença precocemente.
Movimentos como estes levam a um aumento do número de pacientes que são diagnosticados com câncer de próstata no Brasil.
Sabemos, entretanto, que o Sistema Único de Saúde do país está sobrecarregado e que não comporta o seguimento destes pacientes nos ambulatórios, Além de não ter recursos estruturais e financeiros suficientes para o tratamento curativo de todos, em tempo ideal. Continuamos lutando para que seja cumprido o que a lei 8.080 de 19/09/1990 determina: acesso universal, igualitário e integral a todos os cidadãos brasileiros.
Recentemente houve controvérsias a respeito da realização do rastreamento do câncer de próstata, tendo em vista a detecção de alguns tumores prostáticos assintomáticos e com baixa agressividade, correndo o risco de sequelas como incontinência urinária e impotência sexual, ao serem submetidos a tratamentos radicais. Em alguns outros estudos, ainda mais controversos, não foi evidenciado um aumento na expectativa de vida câncer-específica.
Em entrevista recente, Sidney Glina, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, respondeu da seguinte forma a pergunta: Porque eu peço exames de detecção precoce do câncer de próstata?
“Nos anos 1980, quando não se conhecia o PSA, os pacientes com câncer de próstata chegavam aos médicos com sintomas avançados, principalmente com metástases nos ossos. Neste momento, o tratamento curativo não é mais possível. Em média, o tumor leva 5 a 7 anos para sair da próstata e criar metástases e mais 2 a 3 anos para matar o indivíduo. Naquela época, a estimativa de vida do brasileiro era de 64 anos (IBGE). Como o câncer de próstata começa a aparecer a partir dos 50 anos, não produzia um grande impacto sobre a sobrevida do homem. Hoje, essa situação mudou. Como a expectativa média de vida é de 74 anos, se um homem de 50 anos tiver um câncer de próstata que precisa ser tratado e não tiver a atenção adequada, ele provavelmente vai morrer muito antes dos 74.”
Assim, a campanha do Novembro Azul se justifica. É importante informar ao homem que o câncer de próstata existe, que mata e que pode ser detectado precocemente.
A decisão de procurar o urologista e fazer exames de detecção é de cada um. O que não podemos fazer é subestimar uma doença grave e negar a informação baseados em dados que não são totalmente confiáveis.
Por: Dr. Giuseppe Figliuolo – Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – CRM:4692.. Presidente Seccional Amazonas (SBU). Especialista em uro-oncologia INCA /RJ. Prof.Msc. de Urologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Doutorando em Saúde Pública UERJ / UEA. Conselheiro CRM/AM. Medico urologista da FCECON. Diretor técnico LACC.
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